terça-feira, 22 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

“A Patrícia é enérgica, persistente e convicta nos seus propósitos”

Patrícia Carreiro é uma jovem formada em Comunicação Social e Cultura pela UAC e coordenadora local do Projecto EscreVIVER (n)os Açores

Quando desafiada a falar-nos um pouco de si, não hesitou em definir-se como “uma pessoa muito sensível ligada à literatura e à comunicação social. A Patrícia é enérgica, persistente e convicta nos seus propósitos. No fundo, é uma pessoa simples.”

Em 2009, esta jovem sensível, tal como se define, deu-nos provas no mundo do romance com A Distância que nos Uniu; obra que contou com o apoio do Governo Regional dos Açores e da Junta de Freguesia de Covoada, “terra que me viu nascer e a quem muito agradeço”.

“Escrevi este livro em 2005, tinha sensivelmente vinte anos. Escrevi-o, inicialmente, por desporto, só depois de uma conversa com uma colega minha é que floresceu a ideia de escrever um livro à séria.

Em 2008, comecei a colocar as coisas em prática e avancei com a publicação do romance que passou na selecção das obras das Edições Macaronésia.” Apesar de já ter publicado um livro e de dedicar grande parte do seu tempo livre à escrita, este talento, confessou-nos ser ainda uma aspirante a escritora: “Ainda tenho muita coisa para percorrer!”

A Patrícia Carreiro mostrou-nos ser uma mulher de garra e ambições: “Tenciono, futuramente, escrever romances históricos, pois gosto imenso de história e de romances. Mas claro, tenho a noção das implicações e do trabalho que um romance histórico traz.

Vou trabalhar para isso.” Outro ponto curioso do seu romance é a simbologia da capa que lhe dá o rosto, o facto de este ser representado por uma ponte “a ponte leva-nos a alguém, une-nos a alguém. Se uma pessoa estiver num lado da ponte e a outra no outro, elas estão distantes. Se uma delas atravessar a ponte, estão unidas. Está tudo relacionado com a união. A capa, fotografada pelo Manuel Silva, saiu exactamente como imaginei. Adorei o trabalho dele”.

Actualmente, o talento deste mês, colabora com o jornal Açoriano Oriental, Tribuna das Ilhas , As Flores e com a Revista Comvida das Portas do Mar. É, ainda, membro activo da Associação Ilhas em Movimento (AIM) e coordenadora local do projecto EscreVIVER (n)os Açores. Já estagiou na RTP e na RDP Açores e mantém activo, há dois anos, um blogue pessoal, onde podem acompanhar o seu percurso e a sua dedicação à arte das letras: http://patriciacarreiro.blogspot.com.

Fala-nos de como chegaste até ao Pedro Chagas Freitas e de como te tornaste na coordenadora local do projecto EscreVIVER (n)os Açores.
A minha viagem até ao Pedro Chagas Freitas foi um mero acaso. Andava eu à procura de cursos online sobre escrita criativa quando dei de caras com o site do Pedro. Então, depois de muito falarmos, chegámos à conclusão de que o projecto EscreVIVER deveria ser alargado para os Açores. Como ele estava no Continente, era preciso alguém que coordenasse o projecto e como a iniciativa de o contactar tinha partido de mim, outra coisa não seria de esperar senão transformar-me na Coordenadora Local do EscreVIVER (n)os Açores. A ideia foi automaticamente bem aceite por mim e pelo Pedro, pelo que arregaçámos mangas e fomos ao trabalho.
Começámos a organizar formações e aqui estamos: prontos para continuar um projecto criativo nos Açores.

És membro activo da associação ilhas em movimento, fala-nos de algumas acções de sensibilização em que participaste e que foram gratificantes para ti.
A Associação Ilhas em Movimento - AIM - é um projecto que muito valorizo. Já desevolvemos grandes acções, por muitos elogiadas,e que são motivo de orgulho para nós. Um dos momentos mais interessantes foi a realização da concentração contra o abuso sexual de crianças em Março de 2010, nas Portas da Cidade. Foi um momento memorável na nossa história. Outro ponto alto para mim está a ser a participação directa do I Concurso Literário Letras em Movimento, no qual sou júri. Está a ser muito interessante.

És uma mulher aventureira?
Não sou assim uma mulher tão aventureira. Sou mais de desafios. No entanto, tive grandes aventuras enquanto membro da TAUA - Tuna Académica da Universidade dos Açores e com o Grupo de Jovens Raios de Esperança da Covoada, desde caminhadas a meio da noite para chegar a casa, até a passeios pela ilha sem se saber exactamente onde se estava. No fundo, senti-me viva nestes momentos! Não tenho loucuras à Cláudia Martins, não, destas não consigo ter!

In Açoriano Oriental, 20 de Março de 2011,Cláudia Martins

sexta-feira, 18 de março de 2011

A mulher do Branco

Ontem à noite, depois de terminar o meu trabalho de recenseamento, por volta das 22h, dirigi-me normalmente para casa; o meu percurso até casa, para ser mais rápido e cómodo, inclui atravessar a Canada do Espírito Santo.

Ao atravessar a tal canada, que estava surda de gente, atrevi-me a olhar para trás e, supostamente, observei uma idosa com um casaco preto pela cabeça; os seus passos pertenciam a uma pauta muda.

O que fiz?
Reduzi os meus passos e olhei, de novo, por duas vezes, para a idosa que se fazia afirmar como a minha dupla sombra - ligeiramente afastada, mas perto do próximo de mim.
Não, ela não se aproximou; dela nada se escutou, também.

O meu passo reduzido, acompanhado, para além da idosa, da falta de iluminação na canada:
- Vizinha, aquela velha! - enunciou-me um vizinho, assustando-me.

Olhamos para trás e a idosa tinha desaparecido numa canada repleta de casas em banda. Desapareceu, simplesmente, sem o som de uma porta se abrir ou se fechar.
O vizinho confessou-me que todos os dias se deixava ficar pela porta da sua casa até por volta da meia noite e que nunca tinha visto aquele ser misterioso por lá.

Desapareceu. Desapareceu sem qualquer som, sem qualquer contacto comigo. Nunca consegui ver-lhe o rosto, apenas um cigarro acesso nos lábios.

- Era a mulher do branco! - afirmou-me, a certa altura, o conterrâneo.
- O quê?! - Vejo saltar do sofá a mulher do vizinho. - Uma alma do outro mundo! - Afirmou-nos convicta a vizinha de mãos no rosto.
- A mulher do branco? Isto é alguma expressão ou é a mulher de algum vizinho? - pergunto-lhes.
- A vizinha não sabe? É uma feiticeira, uma bruxa! Eu vi-a sempre atrás da vizinha e fiquei sempre de olho nela caso ela lhe fizesse alguma coisa...

Enfim, acontece-me cada uma.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Escrever pode ser considerado um acto de "traição permanente"

Pedro Chagas Freitas, o Mourinho da escrita, é um escritor premiado e com dezenas de obras publicadas. Chega aos Açores em Força com o seu projecto EscreVIVER.


Sente-se um escritor fiel aos defeitos humanos? É esse o objectivo da sua escrita: a fidelidade aos nossos defeitos?
Sou um escritor fiel à infidelidade. Escrever é uma traição permanente. Escrever é ser muitos. E ser muitos é ser agora o que no momento seguinte parece impossível de ser. Escrever é um defeito que produz efeito: um defeito útil. Talvez o defeito mais útil do mundo. Ter a possibilidade de fazer vida de um defeito e de ensinar os outros a encontrarem utilidade nesse defeito é um mistério tremendo para mim. Mas é, mais ainda, uma grande felicidade: uma bênção que, todos os dias, agradeço. Por falar nisso, aqui vai mais uma: obrigado.

Gosta de ser chamado pelo epíteto de "o Mourinho da Escrita"?
Não tenho de gostar ou de não gostar. Mas se há algo que me deixa feliz na comparação é isto: trabalho como um cão para ser o melhor, para conseguir fazer o que mais ninguém faz. E, nisso, sou exactamente igual a ele. Nisso e na barba sempre por fazer – mas isso é apenas porque tenho uma pele de cocó, que sempre que se lhe coloca uma lâmina em cima parece que se desfaz em papas. No fundo, é isso: se ser o Mourinho da escrita é ser um gajo que se esfalfa que nem um desgraçado, que passa os dias a pensar na melhor forma de escrever, na melhor metodologia para fazer escrever melhor os outros, nas melhores soluções para chegar a algo realmente vencedor e único, então, sim, não há que duvidar: eu sou esse gajo.

Já admitiu ser um apreciador de paisagens humanas. Atrai-lhe mais: pessoas semelhantes ou diferentes de si?
Gosto de ver pessoas. De olhar, sim – mas sobretudo de as ver. E são coisas completamente diferentes. Recordo-me de que, nos meus tempos de faculdade, saía muitas vezes sozinho de casa para ver pessoas. Nada mais do que isso: sair para a rua para ver pessoas. Era como que uma precisão biológica: uma necessidade tão forte como comer ou beber. Atrai-me, por isso, pessoas – as tais paisagens humanas. Podem ser diferentes ou semelhantes. Mas todos sabemos que, na realidade, não há semelhanças entre seres tão iguais como os humanos.

Qual foi a sua maior loucura?
Acreditar que seria capaz de responder a essa pergunta sem ser louco. Mas sou: incondicionalmente louco. Sou pelo direito à loucura. Sou contra qualquer tipo de sistema – o que faz com que seja esse, no fundo, o meu sistema. E ser regido por esse sistema é, sem dúvida, a minha maior loucura. Por mais louco que possa parecer.

“O resto é viver com a arte dentro”

Para si o prazer e a demência são irmãos?
O prazer só é prazer quando é demencial: quando se faz do que não se agarra com a razão, quando se faz do que não se vê com o olhar. Por isso, não diria que são irmãos – diria, isso sim, que são amantes: amantes loucos. Melhor ainda: amadores – verdadeiros profissionais do amor. Sem demência não há prazer – mas também não é menos verdade que a demência não é, em regra, prazer algum. A demência alimenta sem alimentar: é uma triste. Ser demente é uma loucura – essa é que é a verdade.
Como foi alargar o projecto EscreVIVER até aos Açores?
O projecto escreVIVER é, por filosofia, um projecto on tour – um projecto que quer, e tem percorrido, vários pontos do país. A ideia é colocar o país a escrever melhor, a pensar melhor, a ser capaz de estruturar melhor as suas ideias e a transmitir melhor as suas mensagens. Nesse sentido, chegar aos Açores foi um passo de gigante – um passo que me fez chegar a um local onde fui capaz de enriquecer e de ser enriquecido pelas pessoas; um local de paisagens humanas absolutamente brutais – que me levaram para fora de mim para voltar, depois, mais eu do que nunca.

Comente esta citação de Thomas Edison: A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração.
A genialidade é a mais genial das invenções humanas. A genialidade foi inventada por um preguiçoso que queria justificar a sua preguiça. A genialidade é pegar no nosso corpinho e na nossa cabecinha e ligá-la aos nossos sentidozinhos. O resto é trabalho. É insistir, é doer, é fazer doer, é berrar, chorar, gritar, gemer, rir. O resto é viver com a arte dentro. É assim que se faz genialidade. E isso de genial não tem nada.

Cláudia Martins, Açoriano Oriental, 14 de Março de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

Faz-Te Poeta: Workshop de poesia



http://www.cm-ribeiragrande.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1968%3Aworkshop-de-poesia-a-19-de-marco-na-ribeira-grande&catid=64%3A1o-destaque-hp&lang=pt

Levar os jovens a gostar e a escrever poesia são os grandes objectivos de um workshop, a ter lugar no dia 19 de Março, no Teatro Ribeiragrandense. A iniciativa é da Biblioteca Municipal, em parceria com o projecto “EscreViver (n)os Açores”.


Ribeira Grande, 2 de Março – A Biblioteca Municipal da Ribeira Grande promove, no dia 19 de Março, um workshop de poesia, numa parceria com o projecto “EscreViver (n)os Açores”.
O workshop tem lugar no Teatro Ribeiragrandense e destina-se a adolescentes e jovens, entre os 11 e 15 anos, que amem as palavras. A iniciativa pretende despertar nos adolescentes e jovens os poetas do passado e contemporâneos; fazê-los escrever prosa e poesia e a recitar e a interpretar os poemas. Ao fim ao cabo fazê-los poetas.
A formação tem a duração de quatro horas, das 11h00 às 13h00 e das 14h30 às 16h30. Está a cargo de Patrícia Carreiro, formada em Comunicação Social e Cultura, pela Universidade dos Açores e Cláudia Martins, estudante de Comunicação Social e Cultura, na Universidade dos Açores.
As inscrições estão abertas, sendo limitadas a 15 participantes e com um custo de cinco euros. Podem ser feitas na Biblioteca Municipal da Ribeira Grande, por telefone 296 474 357 ou endereço electrónico bibliotecamunicipal@cm-ribeiragrande.pt

Workshop de poesia
Data: 19 de Março
Hora: Formação: 11h às 13h e das 14h30 às 16h30.
Entrega de certificados e a apresentação de trabalhos - das16h30 às 17h30.
Local: Teatro Ribeiragrandense


Texto e foto: Ana Paula Fonseca, Assessora de Imprensa da Câmara Municipal de Ribeira Grande
afonseca@cm-ribeiragrande.pt

Foto @ Google

sexta-feira, 4 de março de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

“O que me dá prazer mesmo, é a sintonia com a vida.”

Gonçalo Cadilhe faz da sua vida uma constante viagem, é um escritor viajante de profissão. “O Mundo é fácil” é o seu último livro; em breve será apresentado na nossa ilha.

Licenciado em Gestão de empresas, Gonçalo Cadilhe, abandonou o seu emprego e começou a viajar sozinho; da Figueira da Foz abriu as portas para o mundo e muitas noites o céu foi o seu melhor tecto, o mais bonito.
A par da sua carreira de viajante profissional, o Gonçalo, é músico e surfista.
Já colaborou com variadissimas revistas como a “Grande Reportagem”, a “Elle” e o “Independente”. Actualmente, colabora com o “Blitz”, a “SurfPortugal” e com o “Expresso”.
Em 2002, em 19 meses, realizou a sua primeira viagem à volta do mundo, tendo como opção: a recusa de transportes aéreos.


Depois de tantas viagens, onde é o seu lugar?
Sinto-me bem a trabalhar para mim, entusiasmado com as tarefas que me auto-proponho. Para um cronista de viagens, um projecto profissional significa andar pelo mundo. Diria que o meu lugar é em qualquer parte que resulte da minha vontade, da minha programação, dos meus estímulos intelectuais de estar lá. O meu lugar é o Estreito de Magalhães se o projecto for a biografia de Magalhães (que deu origem ao livro "Nos Passos de Magalhães"); ou então é uma estrada de pó no Congo se o projecto for atravessar o continente africano sem recorrer ao transporte aéreo (que deu origem ao livro "África Acima") ou o Laos e a Birmânia, se o projecto for revisitar os sítios descritos na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (que é onde me encontro agora (MARÇO/ABRIL)

Dá-lhe mais prazer: perder-se ou encontrar-se?
Ah ah, depende do que encontro quando me perco e do que se perde quando me encontro. O que me dá prazer mesmo é a sintonia com a vida, é estar no sítio certo no momento certo, essa coisa de olhar por acaso para um relógio digital e ver que as horas perfazem uma capíuca perfeita, tipo 14.41, e pensar que é o destino a piscar-me o olho. Imagine que frustração perder-me quando devia encontrar-me e vice-versa.

Qual o melhor de se estar perdido e o pior de se estar a encontrar?
E porque não o contrário? Ou seja: "Qual o pior de se estar perdido e o melhor de se estar a encontrar?". Tudo tem o seu lado positivo e negativo, a velha história do copo de agua meio cheio ou meio vazio. Tem a ver, repito, com termos ou não a noção que estamos em sintonia com a vida. É um estado mental.

“Não partir porque pode ser perigoso? Não, vai na mesma...”
O mundo é um animal domesticável? Se sim, qual o melhor truque para o domesticar?
O mundo, tal como a quantidade de sal na água da panela ou o lastro necessário para equilibrar o navio, controla-se melhor com a experiência. Ajudam bom-senso e intuição, mas só o tempo, os anos, os quilómetros, podem permitir essa certa tranquilidade de atravessar uma fronteira com um sorriso de antecipação. O truque é portanto, o tempo, a rodagem.

Comente esta citação: "Não temas aonde tens que ir, porque irás morrer onde deves."
É mexicana, vem dessa cultura com vários substratos e acoplamentos, uma cultura inaugurada de um modo trágico e sangrento, a rendição incondicional de um império meso-americano a meia dúzia de espanhóis barbudos só porque "estava escrito nas profecias". Essa dimensão de fatalidade, que é também muito portuguesa, pode ser útil para um aspirante a viajante se auto-convencer a enfrentar os perigos da viagem. Não partir porque pode ser perigoso? Nah, vai na mesma, se tiver que acontecer, tanto faz estares lá como teres ficado cá.

Onde gostava de envelhecer?
Num clima seco e ameno que não permitisse o avançar do reumatismo e das artroses (risos).

Qual a sua regra de segurança?
A minha regra básica de segurança, quer esteja a atravessar o Afeganistão, quer esteja a apanhar o metro em Nova Iorque, vem do bom senso popular: “Em terra onde estiveres, faz como vires fazer.

Cláudia Martins, IN Açoriano Oriental 21 de Fevereiro de 2011