domingo, 20 de novembro de 2011

Entrevista a Raimundo Delgado

Já teve de abandonar a sua terra natal à procura de um futuro melhor, já viveu uma experiência de terror em Timor Leste, já publicou um livro e fundou um jornal apologista da paz.
Raimundo Delgado: vive no que ensina e no que ama; deixa em tudo a sua marca. Apesar de lhe ter sido diagnosticado, muito recentemente, cancro no pâncreas que se expande para o fígado e intestinos, encontra-se em paz e muito tranquilo.
Vamos aplaudir e conhecer mais um pouco deste homem que soube lutar por um ideal, por um sonho.




Com o intuito de investigar, em 1991, o massacre, a cerca de 200 jovens, cometido em Timor Leste foi preso, maltratado e ameaçado de morte. Em que aspectos, esta situação, mudou a sua vida?
A experiência de terror que vivi em Timor Leste mudou a minha vida, mas nada se compara com o que os nossos irmãos Timorenses passaram. Sinto pena que os meios de comunicação (tanto locais, nacionais como internacionais) nada fizeram no princípio do que se passou em Timor Leste e, em termos gerais, por ignorarem a minha missão de jornalista independente. Cada um de nós, cidadãos, tem de velar pelo bem-estar dos nossos irmãos: não importa onde estejam neste pequeno planeta.

“Ter que imigrar é o mesmo que ser condenado à guilhotina”, afirmou no seu romance Fogo na Areia, assim sendo, sente-se sempre dividido entre os Açores e a América?
Imigrar sempre foi uma alegria para aquelas famílias que conseguiam uma carta de chamada e certo dia abandonavam tudo: a família, a aldeia, os amigos, os cheiros e as pessoas que preenchiam o seu dia o dia. Mas nós, imigrantes, pagámos um preço incalculável quando abandonamos o nosso torrão natal. Imigrar é um crime. É o mesmo que enviar uma pessoa para o desterro, onde a primeira coisa que nos tiram são os nossos nomes, a nossa dignidade e o nosso joie de vivre.

"Pagámos um preço incalculável quando abandonamos o nosso torrão natal!"

Fogo na Areia é uma aldeia imaginária por si forjada: quais os valores que tenta defender e enaltecer com a construção da mesma?
Fogo na Areia é a minha aldeia, o paraíso que criei tal como Gabriel Garcia Márquez o fez com o seu Macondo, no seu livro Cien Anos de Soledad. Quem conhece o Livramento, São Roque e freguesias circunvizinhas de São Miguel, Açores, verá que o Fogo na Areia é baseado essencialmente naquelas áreas onde a minha mãe e o meu pai nasceram e onde me criei até aos 15 anos de idade.

A sua obra poética Mar de Orquídeas foi inspirada e dedicada a uma musa que o acompanhou em pensamento durante 30 meses. Conte-nos a peripécia que a envolve.
Nunca escrevi poesia, mas quando procurava a minha segunda esposa corri o mundo inteiro e encontrei uma mulher brasileira que captou a minha atenção; a certa altura apercebi-me que estava envolvido num triângulo traiçoeiro. Esta experiência motivou-me a escrever poesia. Por fim, fui à ilha de Cebu, nas Filipinas, e encontrei a minha esposa com quem estou casado há três anos.

O que o motivou a fundar o World Peace Journal?
Fundei o World Peace Journal, há um ano, por três razões: promover a paz, dar a oportunidade a todos os escritores que queiram publicar em qualquer língua e para dar a oportunidade, a mim próprio, de publicar os meus trabalhos que enviava para os jornais americanos e portugueses, na América, e que frequentemente eram censurados e não publicados.

"Os meus trabalhos(...)eram censurados e não publicados."

Considera-se uma pessoa sedenta de justiça e de paz no mundo?

Penso que todos nós: temos a obrigação de velar pela justiça e paz em qualquer parte do mundo.

Comente esta citação de Dalai Lama: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.”.
Concordo plenamente. As nossas vidas devem ser como faróis de amor, paz e carinho para todos os que fazem parte da nossa família, círculo de amizades e, especialmente, para aqueles que não conhecemos.

Cláudia Martins in World Peace Journal, Novembro (2011)

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