domingo, 3 de abril de 2011

“Serei, de certeza, muito melhor post mortem”

Ex-Ricardo Depinho Teixeira percorreu, desde muito cedo, o caminho dos seus sonhos; hoje, além de editor há mais de dez anos, é músico e poeta.

Ex-Ricardo: Ex de exemplo a seguir ou de algo que deixou-se de ser?
A analogia com "exemplo" nunca foi pensada. Talvez alguns se identifiquem com a mesma. O que me deixa, como é óbvio, feliz. O "Ex" tem que ver com a forma como me assumo: ainda não sou eu e já não sou eu. Sou um véspera de mim próprio.

Sente-se um vindouro?
Sinto-me um vindouro em parte. Outra metade diz-me que sou um homem do meu tempo.

Neste palco, que é a vida, muitos são-lhe os aplausos?
A vida é feita de vitórias e derrotas. Algumas das minhas vitórias foram de facto enormes, diminuídas talvez por o Porto (a minha cidade de abrigo) não ter o mediatismo de Lisboa.
Factos de que me orgulho: ser o mais jovem editor de todos os tempos em Portugal, ser o autor dos "maços de poemas" (provavelmente o maior best seller de Poesia de todos os tempos no nosso país), ser pioneiro no Word Song, ser pioneiro nos ebooks e na internet.

Percorreu o caminho dos seus sonhos muito precocemente e foi o pioneiro em várias das suas conquistas: aos olhos de outros, como acha que estes lidaram com o seu progresso e sucesso?
O mundo é dos que sonham, mas raramente os que sonham são acompanhados pelos do seu tempo. Como qualquer bom português: serei, de certeza, muito melhor post mortem.

Na sua opinião como editor: quais os maiores entraves no lançamento de um novo artista?
Vivemos num mundo "matrix". O que não passa na TV é como se não existisse. Isso aplica-se muito à arte também.
Sem "tempo de antena" torna-se muito dificil ao artista "Aparecer" ou "explodir". Temos um país de enormes talentos. Mas repare-se por exemplo na rádio: somos o único país ocidental que se despreza a si mesmo. O que vem do estrangeiro é sempre melhor.

Não sou apologista de rótulos mas, como editor, chegam-lhe muitos artistas açorianos ?
Lido essencialmente com novos autores. Têm-me chegado bons livros dos açores, alguns dos quais editei. Os açores não fogem à regra de todo Portugal: somos de facto um país de pessoas com muito talento.

.O mundo é dos que sonham, mas raramente os que sonham são acompanhados pelos do seu tempo

No meio disto tudo como nasceu a Corpos Editora?
A Corpos Editora surgiu após o lançamento do meu 1º livro "Best of". Após esse primeiro caminho, não havia volta a dar. Era algo a fazer. Não tinha escolha.

Como poeta e músico: quais as facetas que tenta revelar aos seus admiradores?
A mensagem que tento deixar é simples: sejam vós mesmos; ultrapassem-se a vós mesmos. Não caiam no facilitismo. Sejam originais. Deixem a vossa marca no mundo, nem que seja apenas na vossa rua.

Qual é a sua máxima de vida?
São várias as máximas com as quais me identifico. Aqui deixo uma: "Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar." Nietzsche

Complete a frase: A vida é como...
...uma corrida de 100 metros (infelizmente).

Comente esta citação de Samuel Beckett: Todos nascemos loucos, alguns continuam sempre assim.
A loucura faz parte da condição humana. A razão é essencial mas apenas à sobrevivência. A mesma visa apenas: segurança, comer, beber,dormir e reproduzir no máximo conforto. Sem a loucura não teríamos a arte, a religião,...
Actualmente, estamos a viver dias de cerco a essa loucura. A sociedade actual está a tentar criar-nos fronteiras invisíveis do que os lideres consideram de "normalidade". Vivemos dias de terrorismo do colectivo ao indivíduo.

Cláudia Martins, Açoriano Oriental, 3 de Abril 2011

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