quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

“ O desprender das raízes terrestres foi, é e sempre será, um sonho...”

É ele: João Brum, quem próprio se define: um espírito jovem - preso num invólucro, segundo ele, mal tratado e com mais de meio século de uma existência fabulosa.

Este espírito jovem, desde 1992, ouve na companhia da sua asa: o respirar da Natureza, caracterizando a adrenalina que sente como uma forte droga natural.
Conversámos sobre o seu constante sonho de voar, sobre as suas aventuras e experiências, como a volta ao mundo num iate; e terminámos a entrevista num sublime voo de parapente, sobre as paisagens verdes da ilha de São Miguel.

Porquê o Parapente como desporto de eleição?
Foi uma paixão em crescente; a primeira vez que experimentei, pensei: "Não é desporto para mim!"; mas desde o primeiro dia em tirei os pés do chão, fiquei completamente "agarrado" - o desprender das raízes terrestres foi, é e sempre será: um sonho do Homem tornado realidade. Somos nós: a asa e o vento; a adrenalina é a droga natural mais forte que existe - não consigo ficar muito tempo sem voar. Também o companheirismo e a amizade entre pilotos são para mim um magnetismo irresistível.

Como nasceu o Clube Asas de São Miguel do qual é o presidente?
O grupo que se formou em 1992, chamado pelos lavradores de "Os Rapazes dos Balãns", organizou-se e em 1997 oficializou o nome que hoje ostenta: Clube Asas de São Miguel, tornando-se no primeiro Clube de Voo Livre dos Açores.

Em média quantos voos faz por mês?
Tudo depende das condições atmosféricas, logo que esteja bom tempo, (menos de 25km/h ou atmosfera sem chuva) estou no ar.

Já voou nos Açores, Espanha, Indonésia e em Portugal Continental. Em qual destes locais gostou mais de voar?
Todos os voos são diferentes e aprende-se sempre algo de novo.
Adorei voar na ilha de Komodo (Indonésia) - por ter sido o primeiro piloto do mundo a fazê-lo. Também marcou-me o voo efectuado em 2009 de Castelo de Vide para Cáceres (Espanha) com uma distância conseguida de 137km.

Com quantos anos de voo e prática é que começou a participar em competições?
Comecei em 2003 com onze anos de voos.

Fale-nos um pouco do seu equipamento.
Voo numa asa da Niviuk - modelo Peak, com o patrocínio da Terra Nostra e da SATA; a minha cadeira é uma "canoa" da Advance - Impress2; os aparelhos electrónicos de voo (GPS + Variómetro) são da marca portuguesa FLYMASTER; uso um rádio Yaesu e um capacete da MacPara - modelo Aero.


“O resto do dia parecia que flutuava...”


Como surgiu a ideia de ser um dos corajosos a dar a volta ao mundo de iate?
É um sonho tornado realidade, uma oportunidade única que logo abracei. Quando soube que era o meu amigo Manuel Mota a organizar a volta ao mundo no seu iate: logo voluntariei-me. Fui "contratado" como o mergulhador de bordo.

Quais as condições que o iate vos oferecia?

Muito boas: quatro homens num iate de 18 metros de comprimento, cada um com a sua cabine e duas casas de banho. Comida e cama garantidas, mais não era preciso!

Quatro homens num iate de 18 metros de comprimento, cada um com a sua cabine e duas casas de banho. Comida e cama garantidas

Partilha connosco mais alguma das suas, revigorantes, aventuras?
Já são tantas, mas gosto de me lembrar de ter salvo uma baleia-de-bossas em frente a Vila Franca do Campo, que tinha ficado presa nuns cabos de amarração de cofres. Os pescadores descobriram o animal em agonia pelas 03:00 e só chegamos ao pé dela, já quando o Sol ia bem alto (cerca das 13:00). Mergulhei primeiro em apneia para verificar os nós e os cabos e depois com um escafandro e faca consegui facilmente libertá-la. Enquanto nadava ao seu lado, e olhando-lhe no seu grande olho: tive a sensação de que me agradecia; como tem as barbatanas peitorais muito grandes, encolhia uma delas quando me aproximava, não queria, certamente, ferir o seu salvador! O resto do dia parecia que flutuava…

Qual o seu voo de sonho?
Seria ultrapassar a marca dos 200km de distância e gostaria de "unir" a Ponta dos Rosais ao ilhéu do Topo, na ilha de São Jorge, pela costa norte.

Os Açorianos, de um modo geral, mostram-se interessados em descobrir esta modalidade?
São poucos, mas também temos uma população de 350.000 almas: uma gota de chuva na imensidão das nuvens que cobrem as nossas Ilhas.

Depois de tantos voos, ainda consegue invejar os pássaros?
Sempre!

A nível profissional dedica-se à biologia. Fale-nos dessa, também, sua paixão.
Já foi paixão, há muitos anos atrás; agora é um trabalho…

Cláudia Martins, IN Açoriano Oriental, 23 de Janeiro de 2011

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