sábado, 12 de fevereiro de 2011

Uma noite à NY

Ontem à noite eu e o meu namorado decidimos ir beber um chá marroquino.
Antes de entrarmos no bar, tanto eu e o Nuno, notámos um cheiro diferente: julgávamos vir do Marrakesh, alguma xiça, comida ou chá com diferentes essências que, possivelmente, estivessem a confeccionar.
Minutos depois, entra em em sobressalto, dentro do bar, um homem a pedir-nos que ligássemos para os bombeiros porque a casa da frente estava a arder.
A Dona do bar, repleta de nervos, voou de imediato a sete pés para o telefone. E eu, num reflexo do momento, fui até aos meus contactos para retirar o número dos bombeiros.

Tanto eu como a proprietária do bar fomos de encontro à porta para ver-mos o ponto de situação. Nunca tínhamos avistado um incêndio daquelas dimensões.
A casa à frente, que cremava, era o antigo edifício da RTP A; estava em obras e iria, na próxima semana, inaugurar uma escola profissional.
O Nuno de imediato segui-nos, ficando a minha mala abandonada na minha cadeira. Inexplicavelmente, e mesmo com toda a agitação provocada pelo incêndio, tive um pressentimento. "A tua mala, vão roubar-te!" - uma voz interior murmurava-me em jeito de pensamento.
Fui imediatamente ao encontro dela. E vi um miúdo com os seus 15/16 anos já todo sorridente na direcção dela. Lancei-lhe um olhar que certamente não irá esquecer. O certo é que naquela noite, ele, nunca mais me olhou de frente. Há sempre quem se aproveite dessas situações. É pena, mas nem no nosso povo podemos confiar. Há sempre gotas poluídas. Será da idade? Não. Nasce de dentro, um vírus que se propaga.

Uma senhora idosa, que morava na casa ao lado, apareceu na varanda aflita. Aconselharam-na a sair de casa e a mais alguém que lá estivesse. Saíram, como quem foge de uma situação destas, agoniadas. Uma delas com um bébé de colo.
Chovia labaredas. Multidões se acumulavam. Abutres da comunicação social circundavam o local e faziam de tudo para capturar boas imagens daquela enorme fogueira que naquela noite iluminou a cidade de Ponta Delgada.

Os policias mandaram-nos recolhermos-nos dentro do bar, para nossa segurança. Já de mala pendurada - sentei-me e continuei o meu chá Casablanca. Bebemos numa velocidade ao som de sirenes. Durante o consumo o meu animo andava o mais baixo possível; daqui a dias ia dar o meu nome nos bombeiros, e queria especializar-me no combate a incêndios. Não sou uma pessoa calma, sou muito impulsiva. Imaginei-me na situação dos colegas bombeiros e confirmei que não tenho tomates, os tomates que julgava ter. Pagámos a conta e voltamos à porta. Sem dúvida que de Marrocos abrimos a porta para NY. As pessoas aglomeravam-se ainda mais. Ninguém estava indiferente.
Saímos por entre uma chuva de labaredas que se envolveram no meu cabelo solto e comprido. O vento fora um inimigo daquela noite. Mais de 60 bombeiros combateram contra o fogo. Presenciei a queda de um bombeiro devido a uma escada que se quebrou. Já sentada dentro do jipe, vejo um vulto preto a voar em decadência contra o solo, acompanhado de um som que só de o imaginar me faz arrepiar. Graças a Deus, este guerreiro da paz, está bem. Um voo de 6m numa aterragem agressiva. Não devia acontecer nada a este anjos da paz. Nada. Nada.

Em direcção a casa, um carro de policia disfarçado - ligou a sua sirene e acelerou a sua velocidade; um combate à droga. Já o Nuno, no mesmo dia, na altura que me vinha a casa buscar, presenciou um combate às drogas, policias encapuçados com armas do género das metralhadores na mão. Uma noite à NY numa ilha considerada uma paz de Cristo.

Estamos em boas mãos! Tenho imenso orgulho nos meus e nossos colegas bombeiros!

Foto: Açoriano Oriental

1 comentário:

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Cláudia, gostei da reportagem...Espectacular....
Beijos